Montagem 4 X 4

Elaine Tedesco, agosto de 2008

Um trabalho em videodança; uma instalação; uma coleção de objetos e um conjunto de pinturas híbridas são as proposições dos artistas Diego Mac, Beth Gloeden, Larissa Madsen e Simone Bernardi para a exposição Montagem 4 x 4.

Na montagem articulam-se as partes de um todo e nessa ação relacional montar também pode significar jogar. Considera-se o jogo enquanto tática, no qual a dinâmica é a urgência de viver e não apenas o prazer lúdico¹.

As montagens operadas por esses artistas têm como ponto de partida a escolha prévia das peças que comporão o trabalho e estão sujeitas a acasos e adversidades do percurso. É através dessa operação expandida que os artistas definem, ajustam e alteram os trabalhos, redirecionando e redimensionando suas idéias iniciais.

Em Montagem 4 x 4 a simultânea apresentação de diferentes formas de empregar a montagem em processos de criação específicos e singulares, expõe um recorte sobre as múltiplas significações dessa operação na arte contemporânea.

Nos trabalhos de videodança criados por Diego Mac a imagem vídeográfica é o corpo que dança, um corpo que tem como característica ser um corpo montado por partes. A montagem é nesse caso edição (escolha) dançar, gravar, recortar, copiar, colar, não necessariamente nessa ordem. No vídeo Mexendo nas Partes editado a partir de fragmentos e detalhes de uma dança gravada, as imagens dos bailarinos dançando passam de um lado a outro da cena interrompidas por uma tarja vertical que corta a tela. Nesse trabalho Diego Mac trata “o entre como um lugar de passagem, mostrado na obra através do trânsito entre o bit e a carne”.

Em Terceira Imagem Beth Gloeden parte de uma operação com as lembranças de frases ditas por sua mãe para recriá-las como memórias visíveis. A montagem é em seu trabalho, inicialmente, um jogo com a memória expresso em fotomontagens realizadas em estúdio através da projeção, sobreposição e manipulação de fotografias. Como se fosse possível retocar o passado, Gloeden recria nessas montagens a realização dos desejos de sua mãe e depois organiza essas fotografias em uma instalação, para a qual a artista acrescenta uma parede e uma cadeira.

Larissa Madsen cria Mundos Mínimos a partir da ação como colecionista. Colecionar, guardar, fotografar, selecionar, conectar, relacionar e novamente guardar para expor são ações que compõem esse processo complexo de montagem. Madsen coleciona pequenos objetos e fotografias desses objetos como se estivesse fazendo um inventário de memórias afetivas. Depois cria as caixas, móveis, gavetas, para montar e re-organizar esses fragmentos de memória. A montagem é um jogo organizado com afeto que propõe uma cadeia de associações à percepção do observador.

O trabalho de Simone Bernardi está relacionado com o tempo, a memória e as atividades cotidianas. Parte de um objeto afetivo – um lençol bordado por sua avó para criar um palimpsesto sobrepondo ações suas, de sua mãe e sua avó. Na elaboração de suas telas a articulação de procedimentos artísticos (pintar, gravar, desenhar) com atividades domésticas ordinárias é efetuada em uma montagem de sobras sobre a tela: tecidos, vestidos usados, restos de buquês de flores, metais, são ativados ressignificando as passagens da vida.

A montagem é apenas um dos procedimentos adotados por esses artistas, além do que existem outras aproximações possíveis como no caso dos conceitos – tempo, memória e imagem – presentes nas suas poiéticas. Destaco ainda, como ponto de convergência em seus processos a livre articulação entre categorias (pintura, desenho, gravura; fotografia e objeto; objeto, fotografia e instalação; vídeo e dança) criando obras de caráter híbrido.

Observar processos artísticos sobre um único ponto de vista, enfatizando apenas um aspecto ou conceito presente é sempre redutor, naturalmente existem diferenças evidentes entre os mesmos, tanto quanto no trabalho final. Assim, deixando de lado o foco que proponho, a exposição Montagem 4 X 4 configura-se como um convite à percepção das singularidades existentes em cada obra e uma proposição a um outro jogo de montagem que é feito pelo visitante da exposição.

¹AMARAL, Aracy A.. “A propósito da Arte Construtora: das poéticas visuais às interferências urbanas” texto escrito em 1996. IN: Textos do Trópico de Capricórnio. Artigos e ensaios (1980-2005)Vol. 3: Bienais e artistas Contemporâneos no Brasil. São Paulo: Editora 34.

artistas

27 anos, é especialista em Poéticas Visuais e graduado em Dança. Iniciou sua carreira em 1998 como bailarino, diretor e coreógrafo de diversos espetáculos – entre os mais atuais estão “Alice [adulto]” (2007) e “Mulheres Fortes em Corpos Frágeis” (2008). Desde 2005 pesquisa as relações da dança com as mídias audiovisuais, criando videocoreografias como “Pas de Corn” (2006) e “Muovere Fashion Week” (2008). Dentre os diversos prêmios recebidos estão os Prêmios Açorianos de “Artista Revelação” (1998), “Melhor Trilha Sonora” (2004) e “Melhor Bailarino” (2008), Prêmio “Brasil EnCena/FUNARTE” (2002) e Prêmio “FUNARTE de Dança Klauss Vianna” (2007). É diretor, coreógrafo e bailarino do Grupo Gaia – Dança Contemporânea e diretor de visualidades e sonoridades da Muovere Cia. de Dança.

Artista Plástica, Especialista em Poéticas Visuais pela FEEVALE. Iniciou sua formação no Atelier da Artista e Professora Vera Wildner, em 1992, trabalhando com diversas técnicas na área da pintura. Também incursionou pela cerâmica e joalheria e hoje, além da pintura, vem se dedicando ao uso da fotografia em seu trabalho artístico. Tem participado de exposições coletivas desde 1992 e sua primeira exposição individual de pinturas ocorreu em 1997, com o título Caleidoscópio. Foi Vice-Presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa – Chico Lisboa na gestão 2004/2006 e Conselheira junto ao FUMPROARTE, por duas gestões, representando a área das artes plásticas. Vive e trabalha em Porto Alegre.

Artista visual e designer formada em Desenho pelo Instituto de Artes da UFRGS, cursou especialização em Poéticas Visuais: Fotografia, Gravura e Imagem Digital na Feevale e atualmente é aluna do curso de Mestrado do Instituto de Artes da UFRGS.

Participou de diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e exterior.

Nasceu em Porto Alegre, RS em 1961. Graduada em Matemática pela PUCRS e Pós-graduada em Poéticas Visuais: Gravura, Fotografia, e Imagens Digitais pela Feevale. Desde cedo se vinculou ao mundo das artes, tendo freqüentado várias escolas e centros de arte. Cursou Desenho e Gravura em Metal no Atelier Livre da Prefeitura. Participou de exposições individuais, coletivas e de salões em Montevidéu (Uruguai), Porto Alegre, São Leopoldo, Montenegro, Santa Maria e Florianópolis. Em 1986, a artista recebeu o primeiro prêmio em Gravura em Metal no XV Salão do Jovem Artista RBS/Corfix, e dois anos depois conquistou o primeiro lugar em Gravura em Metal no I Salão de Arte Aspaci/Petrobras.

em cartaz
Até 09 de novembro terça a domingo – das 10 às 19h.
Entrada franca

local
Fundação Ecarta – Av. João Pessoa, 943 – Porto Alegre