Monstera Deliciosa, um desejo ambiental

A planta Monstera Deliciosa, popularmente conhecida como Costela de Adão, fornece subsídios materiais e conceituais para as experimentações plásticas da artista Manuela Eichner. Na exposição que inaugura na Galeria Ecarta, a artista apresenta o resultado de um processo de tridimensionalização pelo qual passaram suas colagens. Os trabalhos ganham o espaço da galeria na forma de instalação, série fotográfica, escultura e objetos criados a partir do procedimento da assemblagem.

Como matéria prima para as obras, Manuela utiliza materiais prosaicos que evocam o cotidiano e a vida doméstica, tais quais os alimentos encontrados à mesa da maioria dos brasileiros – além da planta que empresta seu nome à exposição, que, nas palavras da artista, “traz uma idéia de delicioso e monstruoso, como o Brasil, com essa beleza e violência gigantesca”. A Monstera, planta de decoração de interiores, torna-se unidade básica de natureza para os habitantes da urbe, imersos no artificialismo do concreto. Ao trabalhar com alimentos e a planta, Manuela evoca os problemas ambientais e de distribuição de bens que o planeta enfrenta, bem como os dilemas de um Brasil exportador de produtos agrícolas que mira o progresso e desmata cada vez mais suas florestas. “Comecei a criar com plantas”, diz Manuela, “porque vejo o corpo brasileiro super distante da natureza, do cuidado com a terra”.

Na associação entre comida e representações femininas extraídas de revistas de grande circulação há também uma crítica à condição da mulher no mundo contemporâneo, cuja imagem não mais lhe pertence: foi transformada em mais uma commodity do jogo capitalista, um produto que vende produtos. Na série fotográfica, no entanto, os corpos têm uma origem diferente, são de pessoas próximas, imagens que vêm contaminadas de afeto. A exposição fala também sobre disponibilidade e intimidade.

artista

Nasceu em Arroio do Tigre, no interior do Rio Grande do Sul, e vive em São Paulo desde 2009. Trabalha com experiências artísticas em colaboração, como o projeto Cambana de convivência em acampamento cigano Calón,no Recôncavo Baiano, e SEU – Semana Experimental Urbana que reúne ações e performances pelas ruas de Porto Alegre/RS. Recebeu financiamento da Funarte, Iberescena, Spa das Artes, Minc, Fumproarte e Rumos Itaú Cultural. Em 2013 participou da exposição coletiva Utropic em Poznán, Polônia, e do filme Blank na residência ZKU em Berlim, Alemanha. Atualmente finaliza o projeto On Earth Playground realizado na obra Spiral Jetty,do artista Robert Smithson, nos Estados Unidos. Como ilustradora produz colagens para diversos meios como a Folha de São Paulo e a revista Tpm da Trip.

em cartaz
abertura: 12 de março, 19h
visitação: Até 24 de abril de terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 20h; e domingo, das 10h às 18h.
Entrada franca
Obs: A Galeria estará fechada no dia 14/3

local
Galeria Ecarta (Av. João Pessoa, 943 – Porto Alegre)

atividades paralelas

24/4 – Sexta feira | 19h
– Encerramento da exposição e lançamento de publicação do Projeto Estado de Deriva em Residência Móvel;
– Conversa com os artistas;
– Performance de Carina Sehn.
OFICINA | 24, 25 e 26 de março, das 14h às 17h |
Interessada em reações e ideias dos visitantes, nos processos e interações desencadeados a partir das experiências vividas na mostra, Manuela também promoverá uma oficina com duração de três dias que ocorrerá no próprio espaço expositivo, transformado em ambiente vivo de criação e discussão, encontro e convivência. A artista explica: “Não crio a partir de caminhos dados, opto por arte para me aventurar no que nem sei sobre mim. Chega de chique, chega de especializar tudo, chega de industrializar a arte. Num mundo doente e sem energia, a arte tem a potência de construir novas formas, novas relações”.