Exposição marca mês da visibilidade trans na Galeria Ecarta

“Corporeidade trans: fragmentos cotidianos” é uma das exposições em cartaz na Galeria Ecarta, com obras  da artista, professora, pesquisadora e ativista Marina Reidel.

Por meio de uma série de objetos, oratórios e capelas, com técnica mista, a artista apresenta uma forma de Via Crucis contemporânea, onde expressa diferentes tipos de agressões sofridas por esses corpos em fronteira.

A mostra pode ser visitada até 28 de janeiro, de terça a domingo, das 10h às 18h, no espaço Professor Artista/Artista Professor no térreo da Fundação Ecarta. Também podem ser vistas duas exposições na Galeria, reunindo peças de 23 ceramistas do Bando de Barro, além da mostra El Tendedero, no Projeto Potência, trazendo a interação com a temática feminista.

A atividade soma-se ao calendário do mês dedicado à visibilidade Trans. Em vigor desde 2004, a efeméride busca a sensibilização da sociedade por mais conhecimento e reconhecimento das identidades de gênero, para combater os estigmas e a violência sofridos pela população transexual e travesti.

A arte como resistência e transformação

O Brasil é o país que mais mata a população trans no mundo ao mesmo tempo em que lidera acessos à pornografia trans nos sites, pontua Marina Reidel no texto curatorial. Como mulher transexual, ativista social e arte-educadora, a artista desenvolve trabalhos em diversas linguagens das artes visuais direcionadas aos temas de direitos humanos e direitos LGBTQIA+.

“Esta performance corporal remete ao processo cultural de violência cotidiana que se reproduz nos espaços da sociedade todo o tempo”, pontua. Na exposição, ela convida a vivenciar e perceber cenas do cotidiano de pessoas trans, narrativas de vidas e  corpos que na maioria das vezes são negados e violentados socialmente.

“Estes fragmentos pretendem provocar uma reflexão a partir do meu universo e do cotidiano, trazendo as marcas de vidas com os corpos que insistem em resistir”, completa.

Licenciada em Artes Visuais pela  Universidade Feevale, pós-graduada  em Psicopedagogia pela Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro e mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marina é professora  há 33 anos e desenvolve suas funções na Fundarte, em Montenegro,  e como supervisora escolar da Escola Estadual Especial Renascença em Porto Alegre.

Atuou como gestora da política LGBT do estado e por seis anos como diretora do Departamento LGBT do governo federal. Também é coordenadora LGBTQIA do Fundo Positivo da Secretaria da Igualdade RS.

A ativista ressalta que a exclusão social faz com que a prostituição se converta em espaço de sobrevivência.

Violência e prostituição

Em uma pesquisa com 1.788 pessoas trans em São Paulo, a principal ocupação exercida pela população entrevistada, o destaque é a parcela elevada de travestis (46%) e de mulheres trans (34%) que se declararam profissionais do sexo, acompanhantes e garotas de programa.

Entre os homens trans, praticamente, não existe a ocorrência de pessoas que se declaram profissionais do sexo e, para as não binárias, o índice foi de 3%. Dentre as entrevistadas que se prostituem, 74% já sofreram violência física constatou o Mapeamento de Pessoas Trans na Cidade de São Paulo realizado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) junto à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC), em 2021.

Evasão escolar e ciclo de exclusão

Crianças e adolescentes trans não raro sofrem violência doméstica e são até mesmo expulsos de casa por suas famílias. O preconceito no ambiente escolar e por vezes na própria família, a evasão escolar é recorrente, o que fortalece o ciclo vicioso de exclusão social e exclusão do mercado de trabalho pela falta de acesso à educação e pelo preconceito, sobrando à prostituição com um dos poucos meios de sobrevivência para 90% da população trans no país.

Em uma pesquisa feita pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABLGBT), 45% dos estudantes afirmam que já se sentiram inseguros devido à sua identidade de gênero no ambiente escolar. E ainda, com pequenas variações, de 70% a 85% da população trans já teriam abandonado a escola pelo menos uma vez na vida.

O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado  em 29 de janeiro para celebrar e reafirmar a importância da luta pela garantia dos direitos das pessoas trans.