PROFESSOR ARTISTA/ARTISTA PROFESSOR

Docência Obsoleta e a sala de aula expandida

A exposição tem como destaque obras no formato de livros de artista que abordam o papel da escola na formação contemporânea.

artista

Porto Alegre/RS, 1977. Vive e trabalha entre Porto Alegre e Osório (RS). É artista multimídia, doutorando em Poéticas Visuais (PPGAV-IA-UFRGS), mestre em Informática na Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Porto Alegre (2019), especialista em Pedagogia da Arte pela Faculdade de Educação da UFRGS (2009), Licenciado em Artes Visuais e Bacharel em Artes Plásticas (Habilitação: Desenho), ambos pelo Instituto de Artes da UFRGS (2018 e 2003, respectivamente). É professor de arte no IFRS – Campus Osório e acredita na transformação da sociedade pela educação e pela arte. Sua trajetória conta com participação em projetos reconhecidos no contexto nacional, como o “Projeto Casa Grande”, vencedor do Prêmio FUNARTE de Arte Negra (2012), regional, como a seleção para o 67o Salão Paranaense (2021), estadual, como o projeto “Desobeciência: arte e ciência no tempo presente”, contemplado pelo edital FAC Movimento da SEDAC-RS (2019), e local, como o projeto “Fora da Gaiola: tensionamentos da paisagem sonora”, realizado com fomento do edital “Jogue Limpo com a Cultura”, da Prefeitura Municipal de Osório/RS em 2020. Para conhecer mais, acesse: www. estevaodafontoura.com.

obras

2. “Leia Meus Lábios” (Coleção Videolivro) – Livro de Artista
3. “Duas Palavras” (Coleção Videolivro) – Livro de Artista
4. “Meia Boca” (Coleção Videolivro) – Livro de Artista
5. “Kosuth e Weiner me iluminaram” – painel luminoso
6. “Não Consigo Respirar” – Desenho sobre tecido africano
7. “Vinte e três letras brancas” – Desenho
8. “Quarenta e duas letras azuis sobre fundo vermelho” – Desenho
9. “Nove segundos” – Animação

curadora

É servidora no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MAC/RS. Trabalhou no Núcleo de Curadoria e no Núcleo de Programa Público do Museu de Arte do Rio Grande do Sul ? Ado Malagoli; Integra o Conselho Curatorial do Museu de Arte do Rio Grande do Sul; Pesquisadora mestra em História, Teoria e Crítica de arte pelo Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da UFRGS (2022); Bacharela em História da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2016); Investiga a representação visual de sujeitos racializados como negros nas Artes Visuais, com foco em acervos artísticos públicos de Porto Alegre. Problematiza os estereótipos dão sustentação aos regimes racializados de representação em diferentes contextos históricos. Sua prática é informada, principalmente por teorias feministas, afrodiaspóricas e decoloniais.

Nós, que já estamos caminhando sobre a Terra há mais de quarenta anos, fomos criados no auge das mídias de massa, quando a televisão exercia influência cabal sobre a sociedade, o rádio ainda moldava os gostos musicais e as revistas impressas vendidas em bancas estabeleciam os padrões de beleza e ditavam o que era a moda de cada temporada. Nossos estudantes, por sua vez, nasceram após os anos dois mil, já tendo um e-mail, cresceram usando e abusando de redes sociais, por onde se comunicam. Ali, não só consomem, mas também produzem conteúdo a ser consumido, angariam likes e engajam (ou distraem) milhares de outras pessoas com sua imagem. Muitos são ou se tornarão Youtubers, Tiktokers, Digital Influencer, profissões que nem poderíamos imaginar  que existiriam, enquanto cursávamos nossas graduações e a internet engatinhava.

Neste contexto pós-mídia, onde as possibilidades abertas pelos avanços tecnológicos das últimas décadas são inúmeras, vemos artistas criando das formas mais diversas, usando computação, robótica, programação, videomapping e modelagem 3D, só para citar algumas. Enquanto isso, na sala de aula, no ensino curricular de arte, o que é trabalhado? O conhecimento que se desenvolve na escola é suficiente para formar cidadãs e cidadãos capazes de exercer sua cidadania com criticidade e autonomia? No complexo momento em que vivemos, com a recente e decisiva influência das possibilidades abertas pelo uso da Inteligência Artificial, ensinar técnicas de desenho ou pintura ainda tem relevância?

Com o movimento contra-colonial no ambiente acadêmico e o movimento negro no ambiente político e social, o surgimento de políticas públicas com o objetivo de reduzir desigualdades sociais e promover reparação histórica à população negra, devido aos efeitos causados pela escravização, estabelece um novo cenário na educação pública. O conjunto de leis protegido sob o guarda-chuva do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) gerou um contexto que vem transformando lentamente a realidade da educação brasileira, incluindo a população negra e indígena no currículo e aumentando a presença destas pessoas em espaços historicamente elitizados e embranquecidos, como a universidade pública, por exemplo. Assim, ser um professor de arte negro, que também é artista e cuja obra artística vem atingindo alguma relevância nos contextos local, regional e nacional nos últimos dez anos, com reconhecimento por prêmios recebidos e com exposições e obras em acervos de alguns dos principais museus e galerias da Região Sul, provocou a seguinte sobreposição: o professor é, ao mesmo tempo, o artista e sua obra é o assunto da aula.

Alguns dos desdobramentos possíveis desta dupla atuação e desta sobreposição de dimensões estão aqui expostos, evidenciando a potência das relações estabelecidas no ambiente da sala de aula, quando estudantes têm protagonismo e suas ideias são respeitadas e valorizadas. De reflexões e debates servindo como inspiração, à participação de ex-aluno como parceiro, escrevendo o prefácio de livro obra, o conjunto de trabalhos presente na exposição “Docência obsoleta e a sala de aula expandida”, tensiona os limites estabelecidos para os papéis sociais de professor, estudante, artista, pesquisador, curadora. Uma estrutura conservadora e cristalizada das fronteiras da atuação de cada um destes agentes é um dos fatores que contribuem para a perpetuação da precariedade e desigualdade social instaurada no contexto da educação básica pública no Brasil, servindo aos interesses daqueles que detém o poder econômico e político e que desejam a manutenção de seus privilégios em detrimento do direito das demais pessoas. O mundo, o museu e a galeria se tornam uma extensão deste espaço de diálogo ampliado, levando a arte e a educação a outro patamar: porta-vozes de transformações necessárias e inadiáveis que estão em curso, da sala de aula para a vida.

abertura
10 de outubro de 2023, 19h

visitação
Até 12 de novembro de 2023, de terças a domingo, das 10h às 18h, inclusive feriados, com entrada franca.

prorrogada
A mostra foi prorrogada até 3 de dezembro de 2023

local
Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, 943, Porto Alegre).