Fundação Ecarta reúne com Central de Transplantes para acompanhar aperfeiçoamento
O presidente da Fundação Ecarta, Marcos Fuhr, e a produtora do projeto Cultura Doadora, Glaci Borges, estiveram reunidos na tarde desta quinta-feira, 9 de janeiro, com o coordenador da Central de Transplantes do RS (CET/RS), o médico Rogério Caruso e sua equipe para acompanhar o andamento do Plano Estadual de Doação e Transplantes (2024/2027), lançado há um ano pelo governo estadual.
A equipe da Central comemora os bons números de 2024, primeiro ano do Plano, com a realização de 752 transplantes de órgãos sólidos, superando a meta proposta de 650 procedimentos, além de 882 transplantes de córneas, como informa o coordenador adjunto da Central, James Cassiano, gestor em saúde pública e transplantado cardíaco há cinco anos.
A agenda foi solicitada pela Ecarta, que acompanha os diferentes aspectos do sistema de transplantes por meio do projeto Cultura Doadora e resultou no fortalecimento do diálogo e detalhamento das ações em andamento. Foram tratados vários temas identificados como entraves para que o estado recupere a destacada posição, que já ocupou no volume de doações e transplantes, deixando a primeira para a oitava posição no ranking nacional.
No Brasil, mais de 45 mil aguardam em lista por um órgão, sendo mais de 3 mil no Rio Grande do Sul.
Corrida pela vida
Marcos Fuhr entregou à equipe da Central exemplares do livro-reportagem Corrida contra o tempo – o que compromete a doação de órgãos e a eficiência do Sistema de Transplantes no Brasil (Carta Editora, 2023), obra que dá um panorama do assunto no país e, especialmente, no estado.
“A publicação é uma das ações do projeto Cultura Doadora, mantido pela Fundação há 12 anos, e que tem como missão o desenvolvimento de ações que estimulem a doação de órgãos e tecidos para transplantes”, pontuou a coordenadora, Glaci Borges.
Informatização deve ampliar doações
No livro estão identificados problemas como a precariedade das instalações da Central, insuficiência de profissionais e déficit de informatização no sistema, que opera com trânsito de informações em parte de forma analógica, por telefone e WhatsApp, com dados lançados manualmente em planilhas de papel por um quadro de servidores escasso.
Caruso informou que a informatização está em implementação gradual nas sete Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) do estado, operando já nas OPO 1 e 2, com previsão de alcançar as unidades regionalizadas ainda no primeiro semestre.
“O novo software é pioneiro no país e permite melhor gerência no processo, com comunicação instantânea do que está ocorrendo em cada etapa da captação de órgãos”, detalhou o coordenador que se dedica a construir a plataforma desde 2017 e ainda busca integrá-la ao Sistema Nacional de Transplantes.
Outros entraves como a distância das OPOs de hospitais captadores, regiões com diminuta captação mesmo com amplo sistema hospitalar, manutenção da qualidade de potenciais doadores assim como de pacientes em lista estão entre os desafios identificados tratados no encontro.
Cultura Doadora mobilizada
“Nosso objetivo é oferecer apoio e acompanhamento para que as metas do Plano avancem, o estado volte a ser referência nacional e mais vidas possam ser salvas”, registrou Fuhr, detalhando o protagonismo do Cultura Doadora no movimento nacional para o uso da membrana amniótica em queimados, que está nas etapas finais na Conitec, após várias mobilizações públicas para garantir esta tecnologia que reduz a dor e apressa a recuperação desses pacientes.
O dirigente também relatou a campanha + Doação e Transplante nos Currículos da Saúde, ação realizada junto às universidades para estimular disciplinas que preparem para este tema, praticamente ausente na formação nas áreas médicas.
Política de Estado e mais investimentos
Rogério Caruso assumiu a coordenação da CET/RS em setembro e é o oitavo coordenador da Central em 14 anos, fator que gera descontinuidade na condução da política para o setor. Em meio a essa rotatividade que acontece no RS, o estado perdeu a liderança na captação de órgãos para outros estados mesmo sendo um centro transplantador qualificado de todos os órgãos.
Integrante do CET desde 2013, o gestor que completa 30 anos na atividade médica ligada à emergência e regulação, busca ampliar a doação qualificando as equipes que dialogam com familiares de potenciais doadores frente a uma negativa de quase 50%.
Serão realizados seis cursos de formação de Comissões intra-hospitalares para Doação de órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdotts) e comunicação de más notícias preparando equipes para as entrevistas com familiares de pacientes com morte encefálica, condição única para a doação. Estudos demonstram que a entrevista humanizada e empática com profissionais sensibilizados aumenta substancialmente a autorização. Em Santa Catarina, estado líder em doações, o preparo dos entrevistadores é permanente reduzindo a negativa a menos de 30%.
A Central ocupa três pequenas salas num prédio nos fundos do Hospital Sanatório Partenon, onde divide espaço com outros órgãos estaduais estratégicos na regulação. Dados apurados que integram o livro-reportagem apontam o quadro escasso de profissionais que se revezam 24 horas, todos os dias do ano, com insuficientes agentes para dar conta de tamanho desafio.
O Brasil mantém o maior programa público de transplantes de órgãos, tecidos e células do mundo. No entanto, milhares morrem na espera, sem sequer entrar em lista.
Alta rotatividade prejudica eficiência
Um dos motivos verificados para o desempenho positivo e uma política de estado que mantém a estrutura estável, valorizada, com investimentos em equipes preparadas sem as oscilações das mudanças de alinhamento de governos que mudam de quatro em quatro anos.
Em 27 anos desde a criação a CET/RS acompanhou mais de 15 mil transplantes no estado, responsável pela coordenação, regulação e logística dos processos de doação e transplantes no estado, subordinada ao Sistema Nacional de Transplante.
O estado do RS conta com uma rede hospitalar composta por 331 hospitais, sendo 18 de ensino e 27 Escolas médicas. Do total, 39 estão na capital e região metropolitana, e o restante nas demais regiões do estado. São cerca de 70 hospitais que mantém Cihdotts e outras precisam ser criadas, capacitadas e aprimoradas para ampliar a captação de órgãos em pacientes com morte encefálica, o que corresponde a menos de 2% de todos os óbitos.