CULTURA DOADORA

Capacitar profissionais de saúde nos hospitais é a chave para ampliar a doação e transplantes de órgãos

Treinamento e capacitação permanente dos profissionais que atuam nas áreas críticas (Unidades de Tratamento Intensivo e emergências) nos hospitais e abordagem humanizada às famílias de pacientes com morte encefálica é a fórmula que faz de Santa Catarina o líder em doação e transplante de órgãos nos últimos 14 anos.

Esta foi a síntese do coordenador da Central de Transplantes de SC, Joel de Andrade, na coletiva à imprensa na manhã desta terça-feira, 11/3, na Fundação Ecarta.

Não há segredos, explica o médico intensivista que coordena o setor há 18 anos no estado vizinho. É um modelo de gestão inspirado na Espanha, país que é líder mundial em doação de órgãos. Antes de por em prática essa metodologia a não autorização familiar em Santa Catarina superava os 70%. Hoje o estado tem a menor taxa do país, com menos de 30%.

Ambiente solidário no hospital

É a empatia e o carinho que fazem a diferença. Em meio a uma notícia triste e muita emoção, a família é acolhida pelo profissional de saúde e orientada sobre a possibilidade e importância da doação de órgãos do paciente confirmado com morte encefálica. Os profissionais que realizam esta etapa nos hospitais são constantemente capacitados e sensibilizados, mesmo com a rotatividade nas equipes.

“O mais importante de todos os elementos é desenvolver um ambiente de solidariedade dentro dos hospitais. É nesse momento de solidariedade que a dor pode ser transmutada em mais solidariedade que é o gesto da doação”, completa o médico que também é um dos instrutores das equipes. “Com abordagens éticas e humanizadas as equipes oferecem a possibilidade da doação. Isso faz toda a diferença”, sintetiza.

 SC é modelo para o país

Estes resultados têm chamado a atenção dos demais estados brasileiros e demandado o médico intensivista que há 18 anos coordena a área a socializar o método.

A taxa de doadores efetivos nacional é de 16,5 por milhão de população (pmp). Em Santa Catarina, 44,8. Na sequência, está o Paraná (40,6 pmp), Ceará (26,7 pmp), São Paulo (20,9 pmp) e Rio de Janeiro (20,0 pmp). Na Espanha, supera os 50%.

Educação, treinamento, organização e experiência colocam esse sistema de pé e permite salvar vidas. Muitos dos órgãos captados no estado vizinho também são destinados a outros estados, como o Rio Grande do Sul, informou Andrade.

Atualmente, o a Central de Transplantes de Santa Catarina conta com 180 profissionais capacitados atuando nos 60 hospitais do estado e mantém 2,4 mil profissionais treinados no curso denominado Comunicação de más notícias.

Estudos demonstram que não são as campanhas de sensibilização para a doação de órgãos que mudam efetivamente as estatísticas de doação, mas a qualidade da abordagem das equipes técnicas que acolhem os familiares em todo o processo hospitalar.

De líder nacional em doação antes de 2009, o Rio Grande do Sul caiu para a oitava posição, mesmo tendo centros transplantadores de excelência.

Nesta vinda ao estado, a convite do projeto Cultura Doadora da Fundação Ecarta, Joel de Andrade também reúne com segmentos gaúchos da doação e transplante em um diálogo na tarde desta terça-feira, na sede da entidade (Avenida João Pessoa, 943).

Às 19h, o médico será o palestrante da aula magna da Escola de Saúde da Unisinos, atividade que ocorre no auditório da Biblioteca no campus de São Leopoldo, numa parceria do projeto Cultura Doadora com a  Universidade.

O Brasil mantém o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, mais de 50 mil pacientes aguardam em lista por um órgão. Deste total, mais de 2,5 mil são do Rio Grande do Sul.Do total de óbitos, menos de 2% tem morte encefálica, condição para a doação de múltiplos órgãos.

 Do total de óbitos, menos de 2% tem morte encefálica, condição para a doação de múltiplos órgãos.