A Noite Barroca

Apresenta fotografias e vídeos do artista Dirnei Prates. Desde 2007, o autor vem trabalhando com a ideia de apropriação em seus trabalhos. Segundo ele, procura nas imagens, absorvidas quase sempre do seu entorno imediato, alguns padrões que evidenciem suas contradições, suas possibilidades de subleituras e interpretações pessoais. “As associações à pintura, recorrentes em meu processo, se apresentam neste projeto sob a forma de contrastes e tenebrismos, que tangenciam imagens e conceitos do período barroco, em seu viés sacro”, explica Dirnei.

A mostra é costurada em duas séries: Júpiter, Netuno e Plutão e Pede-me o que quiseres e eu te darei. As fotografias resultantes da primeira sugerem uma aura de brutalidade e redenção que aproxima os retratos dos anônimos, quase sempre marginais, reinventados nas pinturas de Caravaggio. O título Júpiter, Netuno e Plutão faz menção ao único trabalho de exibição pública do artista renascentista, o afresco pintado em Roma, na capela do jardim Ludovisi de Porta Pinciana. “No projeto, capturo imagens da tela do computador, oriundas de sites de encontro onde, através de uma webcam, seus usuários podem se exibir publicamente e conversar com os pretensos parceiros, numa encenação em que o que está em jogo é o compartilhamento de uma fantasia momentânea e sem culpa”, detalha o artista.

A outra série, Pede-me o que quiseres e eu te darei, consiste na projeção de três faces masculinas, cujas expressões, por vezes indecifráveis, transitam entre a dor e o espanto. Oriundas da decupagem de cenas apropriadas de filmes pornográficos, as cabeças que emergem em um plano-sequência procuram reconfigurar, por meio do tensionamento imposto pela velocidade da projeção, o momento do gozo dos atores para além de um simples ato. “Ao focar especificamente os rostos procuro também explicitar algumas semelhanças nas expressões destes atores com as faces das figuras decapitadas, retratadas em alguns dos quadros de Caravaggio: Salomé com a cabeça de João Batista (1607), David com a cabeça de Golias (1607) e Medusa (1597)”, contextualiza Dirmei. “Quando estendido o tempo, a imagem desta ‘pequena morte’ reforça também a possível melancolia mundana e a transcendência envolvida nesta ação, sublinhando, tal qual a concepção barroca do mundo, o caráter efêmero e dualístico da existência. O título se apropria da frase de Herodes dita à Salome, segundo a bíblia, após sua hipnótica dança.”

artista

vive e trabalha em Porto Alegre. Cursou Arquitetura e Urbanismo Ufrgs/2003. Desde 2006 atua no coletivo Cine Água em parceria com o artista Nelton Pellenz. Em 2012 participou do MAC Encontra os Artistas (do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo), promovido pelo grupo de estudos em Crítica e Curadoria do Departamento de Artes Plásticas da USP; recebeu indicação ao Prêmio Investidor Profissional de Arte (Pipa) e foi um dos dez artistas destaque da Bolsa Iberê Camargo. Realizou as exposições individuais Verdes Complementares, no Palácio das Artes, Belo Horizonte (2013); Paisagens Populares, no Programa de Fotografia do Centro Cultural São Paulo (2012), Fotografias Recentes, na Fotogaleria Virgílio Callegari, em Porto Alegre (2012) e Ficções Apropriadas, na Pinacoteca da Feevale, em Novo Hamburgo (2009). Entre as exposições coletivas recentes destacam-se a 10ª Bienal do Mercosul – Mensagens de uma Nova América e Time Line BH – Mostra Internacional de Vídeo Arte, ambas em 2015. E alguns dos reconhecimentos recebidos foram o Prêmio Aquisição no Programa de Fotografia do Centro Cultural São Paulo (CCSP), Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, categoria Novas Mídias, em 2010, e Exposição Coletiva em 2012, e Prêmio de Melhor Filme na 10ª Mostra do Filme Livre, no Rio Janeiro, em 2008.

em cartaz
De 6 de julho de 2016 a 7 de agosto de 2016

local
Fundação Ecarta (Av. João Pessoa, 943, Porto Alegre)